sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Procurando bem, todo mundo tem pereba *

Eu gostaria de ficar presa em algum seriado.

Ok, algumas pessoas dizem que adorariam ficar presas por um dia no supermercado. Ou em um shopping. Eu não. Eu gostaria de ficar presa em algum seriado. Tipo Rachel em Friends ou Lorelai em Gilmore Girls. Primeiro porque é muito mais fácil viver a vida de outra pessoa que a nossa. Segundo que a vida dos outros sempre parece ser bem mais divertida. E terceiro que já existe toda uma personalidade e um script a seguir, não é como se você tivesse livre arbítrio.
...pensando bem, talvez não seja muuito divertido ficar presa em algum seriado.

Em Gilmore Girls seria praticamente obrigada a viver em Star Hollows pra sempre. Vamos combinar, aquela cidade não tem absolutamente nada. E por mais que seja divertido assistir filmes e ficar fofocando, não é exatamente o que eu tenho como plano de vida. Além do mais tem o hotel para administrar e eu teria uma filha, o que faz com que eu tenha que me colocar em segundo plano, afinal de contas, é preciso alguma responsabilidade para fazer as coisas darem certo e a Rory poder seguir para Yale. Ou talvez, só talvez, se eu fosse um pouco irresponsável, ela largaria a faculdade e viraria balconista em alguma loja de doces de Star Hallow.

Rachel. Linda. Confusa. Divertido ser ela. Ruim não ter carro. Sempre quis ter um bom carro e dirigir para onde eu quisesse ... e eu poderia ser a Robin de How I Met Your Mother e ter toda aquela personalidade masculina que ela tem. E beber cerveja e transar com o Barney de vez em quando e virar apresentadora de TV. Mas , sabemos, não seria assim. Eu provavelmente me apaixonaria pelo Ted, e o seriado acabaria no segundo episódio, mostrando como ele conheceu a mãe de seus filhos.

Patético.

Lilly. Eu realmente poderia ser Lilly. Ela é viciada em moda, sapatos e roupas. E é divertida. E louca. E compulsiva. Nossa, como ela é compulsiva. Eu não gostaria de ter adquirido as dívidas dela. Eu nunca teria enganado Marshall, e provavelmente nunca o teria largado. Mentira, teria sim. Da primeira vez, exatamente como ela, porque ás vezes simplesmente estamos assustadas demais para seguir em frente, sem saber se temos outras pessoas para conhecer durante o caminho e/ou outras histórias para contar. E ela foi em frente, sim, e foi importante para ver que ninguém a faria feliz como Marshall faz.

Eu seria o Marshall. Eu seria loser suficientemente para esperar o amor da minha vida descobrir que precisa de mim. E me entregaria a cerveja e mulheres gostosas enquanto isso, além de me meter nos estudos de Direito, que eu também levaria para frente, sim. E eu seria uma boa advogada. Eu teria bons discursos e eu convenceria muitas pessoas. Mas aí eu teria que ser lésbica e o seriado não teria um ideal de casal e a história não faria mais sentido.

... e eu poderia ser a Katie. Seria uma experiência divertida, até. Eu não teria sua coragem nem sua força de vontade para caçar e se enfiar no mato e cuidar das pessoas. Eu provavelmente ficaria sentada, na minha, fazendo piadas sarcásticas e esperando que os líderes decidissem por mim. E quando o fizessem, eu daria minha opinião sim, só para polemizar, só para ser um pouco mais chata. E eu seria, eu seria Sawyer como ninguém.

E eu não seria nunca Sun, porque ela tem segredos dolorosos demais guardados dentro de si mesma. E embora eu também os tenha, eu não dividiria com ninguém, não. Eu não dividiria. Eu não casaria com um idiota daqueles. Eu não teria um filho com ele. Bem... eu definitivamente não usaria aquele penteado. E eu não teria viajado de avião grávida, então eu também não seria a Claire. E nem a Julie porque eu simplesmente não trocaria qualquer vida que eu tivesse por uma aventurazinha numa ilha maluca cuidando e fazendo pesquisas a respeito de jovens mães . Ah, eu não teria saco pra isso não.

[*carinhosamente retirado de Chico Buarque. Não a pereba... o título]